A dica de hoje é o livro O corpo impossível de Eliane Robert Moraes

Ele é dividido em 3 partes com vários capítulos. Minha edição é da Iluminuras de 2012 e conta com ilustrações em preto e branco.
Recomendo esse livro para quem quer pensar e entender mais sobre a desconstrução e fragmentação do corpo humano na arte moderna, da qual a arte contemporânea é herdeira.
Moraes reflete que, em um mundo onde o corpo pode ser tomado como uma unidade material mais próxima ao homem, ele foi imediatamente atacado e fragmentado na arte. Relembra que a estética modernista tinha como objetivo destruir o realismo do corpo.
Moraes relembra que a geração surrealista operava um desejo de decomposição e fragmentação, sendo esta última observada na obra de René Magritte, Evidência Eterna, de 1930.
Afirma que a anatomia modernista desfigurava a forma humana, e não a fixava de forma estável. E que esse interesse pela anatomia humana era proporcional ao desejo de destruí-la.
Pensando também nos objetos surreais, a autora afirma que ao tempo em que o produto industrial era criado para ser funcional, o surrealismo buscava o contrário, liberando os objetos de sua função, os colocando numa esfera do imaginário e do desejo.

Escreve sobre as combinações que surgiram entre o ser humano e uma infinidade de outros seres e matérias. A figura humana se bestializa, dando forma a seres híbridos. E essa formação de novos seres amplia o processo combinatório de justaposição de distintas realidades, ou seja, multiplica formas.
Diz que quando a arte toma para si desígnios que antes eram reservados para a religião, quando a arte passa a tentar responder à inquietações e penetrar fundo nas coisas, ela deixa de propor imagens indiferentes, e simplesmente belas, para então fazer transparecer o mundo.
E diz que O homem moderno procura na arte o mesmo que busca na farmácia: remédios bem apresentados para doenças confessáveis.
O livro O corpo impossível comenta sobre essa estética desumana, que emergiu através da experiência de guerra, de uma oposição aos discursos humanistas e das fronteiras entre o humano e o inumano. Rememora principalmente o surrealismo e a decomposição humana, mas também artistas e escritores que vieram antes desse período.
